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  • Foto do escritor: Marina Viana
    Marina Viana
  • 18 de jun. de 2018
  • 4 min de leitura

Atualizado: 19 de jun. de 2018

A arquitetura feminina não poderia ser representada de forma melhor. O pioneirismo e a criatividade de Zaha Hadid fizeram com que ela redefinisse conceitos de arquitetura para o século 21. Ela exerceu uma enorme influência para a arquitetura com obras marcadas, especialmente, por curvas e traços orgânicos. As características que tornaram a arquitetura de Zaha tão única são: a não linearidade, desconstrutivismo, acompanhado de curvas, formas e perspectivas, sempre tendo a natureza como inspiração.


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Zaha Hadid no Centro Cultural Heydar Aliyev, Baku, 2013 | Foto: Dmitry Ternovoy

Zaha foi uma mulher árabe, mais tarde naturalizada britânica. Nasceu em 31 de outubro de 1950, em Bagdá, capital do Iraque, em uma época na qual a cidade se desenvolvia econômica e culturalmente antes da longa guerra contra o Irã, iniciada 30 anos depois – na década de 80. Em uma entrevista à Revista Port, Zaha conta que manifestou interesse pela arquitetura desde a infância e que seu pai despertava mais ainda a atenção dela para isso, ao mostrar construções durante algumas viagens.

Como já é de se imaginar, o gênero e a etnia de Zaha afetavam seu trabalho, de forma positiva ou negativa. Em uma época na qual a arquitetura era uma área predominantemente masculina e ocidental, Zaha encontrou enorme resistência para conquistar seu espaço pelo fato de ser árabe e, ainda por cima, mulher. Em um ensaio para o The Guardian, ela disse "é como uma faca de dois gumes. No momento em que aceitam que eu seja uma mulher, o problema passa a ser minha origem árabe".

Zaha graduou-se primeiro como matemática, na Universidade Americana de Beirute, no Líbano. Mas foi aos 22 anos, em 1972, que ela iniciou de fato os primeiros passos rumo à arquitetura, na Architectural Association School of Architecture, em Londres. Na década de 1980 Zaha fundou seu próprio escritório, o Zaha Hadid Architects, o que lhe proporcionou reconhecimento mundial e destaque nessa área. Foi a primeira mulher a receber, em 2004, o Pritzker, a maior premiação da arquitetura internacional, e também a medalha de ouro do Instituto Real de Arquitetos Britânicos (RIBA, na sigla em inglês).

Infelizmente alguns dos projetos idealizados por Zaha não chegaram a sair do papel como, o projeto de ampliação do Parlamento Holandês – entre 1978 e 1979 – e o projeto The Peak, vencedor de um concurso para construção de um clube nos montes de Kowloon, em Hong Kong. Apenas em 1993 que o primeiro projeto do escritório de Zaha foi construído. Foi o prédio do campus de design Vitra, na cidade alemã Weil am Rhein, que após um incêndio, precisou ser reconstruído. Uma década depois, foi decidido que também seria erguida uma estação do Corpo de Bombeiros no campus.

Esse projeto é marcado pelo design desconstrutivista, já característico dos desenhos e pinturas de Zaha. A utilização de concreto e o fato de ser um prédio estreito revela aspectos que acompanhariam a arquiteta por toda sua carreira. A sensação de instabilidade e dinamismo é muito evidente por causa suas linhas — que, nos projetos posteriores, tornaram-se curvas. Atualmente, o prédio não é mais utilizado pelos bombeiros e tornou-se um museu de design de móveis.

Agora algumas das muitas obras de destaque de Zaha:

  • Centro Aquático de Londres: esse projeto foi construído para as Olimpíadas de 2012 e a inspiração para o formato do local é a fluidez da própria água, tanto das piscinas quanto dos sete cursos d'água que passam pelo parque. A utilidade para os visitantes e a integração com a cidade também foram aspectos considerados por Zaha. A iluminação foi um desafio, pelo formato da cobertura; foi feita uma combinação de iluminação elétrica — fluorescente e de LED — e luz natural.

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Centro Aquático Londres | Reprodução: Viva Decora Pro

  • Guangzhou Opera House: inaugurado em 2011, essa obra é um teatro à beira do rio Guangdong (pérola, em português), na China. Mais uma vez a natureza é tida como exemplo, pois Zara procurou representar a topografia e a erosão dos vales fluviais que estão ao redor da construção. Os painéis de vidro são fundamentais para que a luz natural seja aproveitada ao máximo e as linhas assimétricas do projeto também ajudam na acústica — essencial em uma ópera.


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Ópera de Guangzhou, China | Foto: Iwan Baan

  • Centro Rosenthal de Arte Contemporânea: esse espaço existia desde 1939 mas, em 1997, houve um concurso para a construção de um novo centro e o projeto de Zaha venceu quase outras 100 propostas. O saguão envidraçado transforma o espaço em uma espécie de praça coberta. Outro conceito presente na construção é o de "quebra-cabeça" pois, o próprio prédio é feito de grandes volumes de concreto de tamanhos diferentes, entre os quais há interseções e vazios que funcionam como um enigma visual.

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Fachada do Centro Rosenthal | Foto: Roland Halbe

  • Museu MAXXI: inaugurado em 2010, esse é o primeiro museu de arte contemporânea de Roma e, ao projetá-lo em 1998, Zaha teve um desafio particular nesse caso: equilibrar modernidade numa cidade com aspectos clássicos predominantes. Ela pretendia que fosse um prédio onde não se podia distinguir direito o que está "dentro" e "fora". A luz natural é aproveitada devido ao teto aberto, enquanto longas escadas pretas e curvilíneas, que contrastam com as paredes brancas, parecem estar no ar.

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Interior do Museu MAXXI | Foto: Iwan Baan

A influência de Zaha também se fez presente no Brasil, primeiro pelo paralelo entre suas obras de traços curvilíneos com as de Oscar Niemeyer. Inclusive em uma entrevista de 2012, Zaha disse que Niemeyer foi uma grande inspiração para sua arquitetura de total fluidez. Ela projetou seu primeiro trabalho no Brasil — e na América Latina — justamente na cidade de Niemeyer. O edifício residencial Casa Atlântica está previsto para ser inaugurado em julho deste ano, na Avenida Atlântica, em Copacabana.

No ano passado, o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) substituiu quadros de Picasso, Matisse e Picabia por trabalhos de artistas muçulmanos em protesto contra as investidas do presidente norte-americano Donald Trump contra esses povos. Uma das pinturas do The Peak, trabalho pioneiro de Zaha, estava entre as obras da exposição.

Zaha faleceu em 31 de março de 2016, aos 65. A dimensão do legado deixado por ela é muito grandiosa nos aspectos culturais e sociais. Sua criatividade e paixão pelos formatos abstratos são atemporais e forma responsáveis por concretizar a projetos arquitetônicos ousados que têm a marca inconfundível de Zaha, uma inspiração excepcional para as novas gerações da arquitetura.



 
 
 
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