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  • Foto do escritor: Marina Viana
    Marina Viana
  • 16 de jul. de 2018
  • 3 min de leitura

Casa da família Bates | Foto: reprodução de Pretty Clever Films

Pode parecer que não, mas a arquitetura e a sétima arte podem andar muito próximas, em alguns casos. Existem muitos exemplos de projetos e construções que se destacaram em séries e filmes e se tornaram ícones que despertam atenção e curiosidade dos espectadores e mesmo de pessoas não muito ligados no universo cinematográfico. Um exemplo dessas construções é a casa da família Bates (Norma e Norman Bates, a mãe e o filho, respectivamente) do famoso filme sessentista Psicose, de Alfred Hitchcock; e que em 2013 inspirou a série Bates Motel.

É interessante pontuar que Hitchcock trabalhou como cenógrafo durante os anos 20, em Weimer, na Alemanha. Isso possibilitou a ele experimentar algumas técnicas que mais tarde vieram a ser usadas para a construção dos cenários de seus filmes. Apesar de o diretor ter, sim, utilizado algumas influências do expressionismo alemão, ele se baseou em uma outra técnica chamada " Kammerspielfilm" (algo em português como "drama de câmera") e isso tem total relação pois, seguindo essa técnica, Hitchcock dava atenção à estética dos ambientes domésticos e à sensação de claustrofobia, que são detalhes muito nítidos na casa dos Bates.


Interior da residência (na série) | Foto: Stuart Isett

Embora o assunto não seja o filme, é importante – para quem desconhece – ressaltar que se trata de um terror psicológico, porque isso tem muito a ver com a arquitetura da residência. Agora, sobre as características da construção, de fato. O terreno abrange a residência, ao fundo, e o hotel à frente; mas o foco é na casa porque o hotel tem características mais modernas.

A residência dos Bates é uma construção que segue o estilo vitoriano, uma tendência de construção que começou no Reino Unido durante o século XIX, mas se espalhou posteriormente pelos Estados Unidos. Em relação à planta, esse estilo abusa da simetria e dos ornamentos; são muito comuns construções altas e cheias de ângulos, torres e com uma grande quantidade de janelas e portas.

Na casa também é possível notar o emprego de grandes janelas com divisões quadriculadas. Inclusive no aspecto das janelas a bay window aparece como destaque. Bay windows – também conhecidas como janela saliente ou janela sacada – são aquelas janelas que ficam para além da estrutura da casa. As janelas têm abertura do tipo guilhotina, em casa do estilo vitoriano. O uso de materiais como madeira (principalmente) e ferro é predominante.


Banheiro (na série) com os típicos azulejos e a janela do tipo guilhotina | Foto: autor desconhecido

Em relação ao telhado, ele evidencia-se pela altura e pelas angulações. A telha mais utilizada é a feita com chapa metálica ou ardósia em tons escuros, como o cinza. Beiras em madeira ganham detalhes rebuscados com molduras e frisos. Outras características que aparecem nesse tipo de construção são alpendres, logo na entrada, e também balaústres que, inclusive são os detalhes que limitam o alpendre.

Tendo em vista que a principal característica do estilo vitoriano é o rebuscamento, é possível entender porque são comuns nesse tipo de construção colunas bem torneadas, vigas elaboradas, acabamentos em pedra, ferro forjado e muita madeira, assim como arcos e frontões. Com relação ao piso da residência, em alguns cômodos é utilizada madeira e em outros, azulejos com desenhos quadriculados.

Mais um exemplo do interior da casa (na série) que evidencia um ambiente perturbador | Foto: reprodução Deadline

A planta baixa da casa dos Bates em Psicose, por exemplo, mostra como o quarto de Norman é opressivamente pequeno; na série isso não é tão visível. Essa questão do tamanho do cômodo desperta uma sensação de aflição, assim como a questão da iluminação (ou da falta dela) da casa, de forma geral; os ambientes são todos escuros, apesar das janelas amplas, a luz natural parece não penetrar e a junção com a mobília antiga e também escura cria uma atmosfera ainda mais apreensiva e angustiante.

É lógico que esses fatores são propositais, justamente pela personalidade do protagonista Norman Bates, que possui sérios transtornos psicológicos. A forma como os cenários são arranjados simboliza a personalidade dupla e confusa de Norman. A chamada "arquitetura esquizóide" (ideia de isolamento) dos cenários evidencia isso, até mesmo no modo como a casa e o hotel estão espacialmente relacionados entre si.


Anthony Perkins como Norman (no filme); exemplo das estruturas ornamentadas | Foto: Alfred A.

A residência apesar de imponente, está em ruínas, num local isolado se contrapõe com a estética retilínea do motel. É possível fazer um paralelo entre o estado mental frágil de Norman e o fato de ele não se encontrar nem na estética modernista do hotel e nem na casa vitoriana de sua mãe.

Tanto o filme quanto a série são ótima indicações para quem tiver curiosidade e interesse no gênero; inclusive complementar a percepção para além da história de fato e atentar para os detalhes do ponto de vista da arquitetura, que auxilia na composição do enredo, de forma geral.


  • Foto do escritor: Marina Viana
    Marina Viana
  • 14 de jul. de 2018
  • 3 min de leitura

Atualizado: 16 de jul. de 2018


Vila da Saúde | Foto: Fleury Medicina e Saúde

Até os anos 1960 era comum que os ambientes hospitalares tivessem um aspecto muito frio e impessoal, do ponto de vista da arquitetura, por que o objetivo central era basicamente demonstrar assepsia do local e também os aparelhos modernos disponíveis para tratar os pacientes. O fato é que, com o passar dos anos, tanto a medicina quanto a arquitetura chegaram à conclusão de que o ambiente tem influencia no estado de saúde das pessoas e, por esse motivo, a arquitetura hospitalar tem se desenvolvido bastante nos últimos anos.

Nessa arquitetura, o espaço dos hospitais vão muito além disso. Eles passam a ganhar uma configuração diferente, um aspecto realmente mais acolhedor para quem estiver ocupando estes lugares; e muitas vezes é disso que os pacientes mais precisam para se curar: um espaço agradável. Na prática, ambientes clínicos e assépticos vêm ganhado materiais de acabamento, mobiliários e cores que fogem, na medida do possível, do tradicional padrão hospitalar.

O programa de necessidades de um projeto hospitalar é bastante complexo porque é algo que envolve muitas funções, setorizações diferentes, acessos, entre outros. Em projetos de hospitais, as áreas de fluxo internas e externas merecem atenção especial. O principal cuidado dessa parte é descentralizar a área de atendimento geral, onde o fluxo de pessoas é maior, das demais áreas como consultórios, pediatria e alas específicas.


Maternidade do Hospital Moinhos de Vento | Foto: Bohn Fotografias

Os projetos, é claro, seguem suas particularidades mas no geral eles possuem características mais funcionais, úteis e sustentáveis, que permitem aproveitar mais o espaço e garantir mais conforto. Por isso, um dos fatores relevantes é que a estrutura do local não seja "engessada", ou seja, que ela ofereça possibilidades de uma futura expansão daquele espaço, ou mesmo de uma modificação interna. Desde a fachada até os espaços internos, o projeto deve promover muita flexibilidade; nesse sentido, divisórias internas de gesso acartonado e corredores são opções bastante utilizadas.

Algumas questões nesses projetos são muito importantes, como o fluxo de pessoas, que precisa ser calculado para que a disposição dos espaços seja proporcional à sua ocupação (considerando os horários), de modo a facilitar o atendimento e a locomoção de pacientes e funcionários. Além disso os mecanismos de deslocamento devem ser bastante explorados, logicamente, como rampas, plataformas elevatórias, elevadores, entre outros, em função da acessibilidade dos indivíduos.

O emprego de vidro é muito comum, tanto por motivos sustentáveis, quanto pela questão de tornar o ambiente mais familiar e aconchegante. Para os pisos, o indicado são os revestimentos mais resistentes, mas que possam ser facilmente limpos; alguns exemplos são: mantas vinílicas, emborrachados, linóleos, cerâmicos e porcelanatos.


Hospital Professor Edmundo Vasconcelos | Foto (e projeto): Zanettini

Detalhes de cor, luz e ventilação também estão muito presentes nesses projetos. Renovar constantemente o ar ajuda no combate às doenças (aqui entra outro aspecto importante de se utilizar vidro). Ambientes claros e alegres agem tanto sobre o fisiológico, quanto o psicológico dos pacientes. Nesse sentido, a decoração é fundamental para humanizar os espaços, seja com artigos decorativos, mobília, cores nas paredes ou outras ideias, ela promove a sensação de bem-estar e, em muitos casos, auxilia no processo de cura.

Muitos profissionais participam dos projetos da arquitetura hospitalar pois, mesmo que arquitetos, designers e engenheiros tenham as ideias, eles precisam conhecer a vivência dos profissionais e pacientes que estão nos hospitais e portanto serão os mais afetados pelo ambiente. No final, esses projetos resultam em áreas funcionais, bem iluminadas, com boa ventilação espaços muito melhor aproveitados. Os postos de trabalhos são mais moldáveis e os acessos mais fáceis, propiciando um ambiente acolhedor e revigorante.




  • Foto do escritor: Marina Viana
    Marina Viana
  • 2 de jul. de 2018
  • 2 min de leitura

“Urban Infill” – proposta de Za Bor Architects para edifício de escritórios, Moscou, Rússia | Foto: reprodução Tfod

O parasitismo, na biologia, é aquela relação ecológica na qual um organismo sobrevive se beneficiando de outro e ainda causando danos ao hospedeiro. Mas na arquitetura, esse termo ganhou um significado diferente e passou a ter um aspecto muito positivo, por sinal, apesar de o nome ainda sugerir um pouco de desconfiança. As chamadas "construções parasitas" vieram como alternativas a serem adotadas para resolver, em parte, o processo da ocupação absurda dos espaços urbanos, porém de uma forma mais reflexiva.

O aumento populacional faz com que os arquitetos e projetistas busquem opções – que não seja apenas a verticalização das cidades – que resultem em moradias de boa qualidade a preços acessíveis e que atenda às necessidades de populações economicamente vulneráveis, para evitar que sejam excluídas dos grandes centros urbanos. Como uma das possibilidades para diminuir esse problema, a arquitetura parasita é uma tendência que tem chamado atenção em muitos lugares e também tem sido objeto de discussões.

Mas no que consiste essa forma de construção? A arquitetura parasita proporciona uma nova maneira de enxergar o ambiente urbano a partir do momento que ela muda a configuração das construções que já existem. Mas não se trata de uma intervenção trivial; na verdade, ao ocupar espaços incomuns das densas áreas urbanas, a arquitetura parasita gera estranhamento e consequentemente, uma possível ideia de mudança.


Proposta de arquitetura parasita que serviria como hospedagem para desabrigados, Nova York | Foto: reprodução Deezen

Diferentemente do que talvez se pense, as construções parasitas não são feitas de forma mal-arranjada. Essas arquiteturas são agregadas à construção inicial de forma bem pensada e criativa, de forma que o design ganhe destaque. Além disso, elas podem ser anexadas em locais de segmentos diversos: escritórios, comércios, moradias, entre outros; o fato é que as construções parasitas são inseridas em locais não produtivos para, justamente, promover questionamentos acerca das questões econômicas, condições sociais de habitação e a própria sustentabilidade.

Em alguns casos, sim, as arquiteturas parasitas têm um caráter predominantemente artístico; mas eu outras situações, elas vêm não apenas para alertar sobre a falta de espaço livre nas grandes cidades, mas também, para propor situações de instalações incomuns que despertam a curiosidade. O interessante é que mesmo se tiverem somente apelo artístico, as arquiteturas parasitas provocam reflexões sobre como os espaços subutilizados podem ser redefinidos e melhor aproveitados.


Rucksack House: quarto complementar adicionado à edifício, Essen, Alemanha; design de Stefan Eberstadt | Foto: reprodução Inhabitat

Mesmo que pareçam excêntricas ao primeiro contato, é inegável que as arquiteturas parasitas têm um potencial de transformar a condição urbana atual, ainda que não com resultados imediatos, mas elas levam as pessoas a enxergarem sua própria relação com as cidades sob outro ponto de vista – menos individualista, talvez.

Alguns dos benefícios que essas construções poderiam produzir são: melhorias nos imóveis daqueles que cederem parte de seu espaço; caso sejam construídas moradias, elas poderão ser vendidas por valores mais acessíveis, uma vez que não haveriam gastos com lotes; e além disso, as arquiteturas podem ser adaptadas de acordo com a necessidade do morador. Tendo em vista essas vantagens, é fácil perceber porque a tendência desse tipo de construção tem sido debatida e cada vez mais, adotada em locais diferentes.

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